No passado domingo, o passeio foi a Norte. De tanto se falar nisso, lá combinámos um passeio até Alvarenga - Arouca, para ir conhecer os famosos Passadiços do Paiva. Eu confesso que andava com bastante vontade de ir lá conhecer aquilo, pois com tanta publicidade, reportagens e fotos nas redes sociais de pessoas que tinham lá ido (e "adorado"), fiquei com as expectativas bem altas (demasiado).
Não obstante da beleza geral da Natureza (que para mim, é sempre bela), após ter feito o percurso todo, fiquei com a impressão que a montanha pariu um rato. Afinal, tanta coisa, tanto falatório, tanta foto, para quê? Na verdade, não me arrebatou, não me convenceu a voltar lá e só me ficou na memória pelos pontos negativos, o que é mau.
Como o percurso é linear e só íamos fazer a ida, começámos por Areinho, que será mais fácil do que ao contrário (começar em Espiunca). Antes de iniciar a subida, passando pela ponte de Alvarenga, vemos a Garganta do Paiva, que é bastante bonita. Não é necessário fazer o percurso a pé para ver esta parte, pois tem-se acesso por estrada de alcatrão.
Podem ver nesta primeira foto, a primeira escadaria, que nos vai levar às alturas. E logo aqui se começa a ver a dificuldade do percurso. Sol directo e centenas de degraus, para ir desembocar num estradão de terra batida, cheio de pó (que será de lama com as chuvas...). Aqui já se consegue ver a loucura que a publicidade faz. Conseguem ver a quantidade de pessoas que vão a subir as escadas?
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Quando se chega ao fim da subida (ufa!), começa-se a ter a percepção do resto do percurso. Para mim, apesar da dificuldade, de tanto degrau e do calor, a parte inicial dos Passadiços foi a que eu achei mais bonita. Já lá em cima, começa-se a ver a Cascata das Agueiras, que é impressionante pela altura, apesar de não levar muita água.
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E como quando se sobe, tem que se descer, temos quase o dobro dos degraus para descer, para continuar no percurso. (Coitados do meus gémeos, que ficaram bem doridos com tanto sobe e desce). Vejam na foto abaixo parte do que se teve que descer. Quem faz o percurso no sentido inverso, terá que subir à volta de 700 degraus para finalizar o passeio.
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Não pensem que sou molenga. Pratico actividade física regular (quase diária), entre corrida de estrada, trilhos, caminhadas e trekking. Na verdade, o maior esforço físico, para mim que estou preparada, foi esta parte inicial. O resto foi fácil, apesar do calor e da falta de sombras. Agora, não aconselho que se vá fazer este percurso, se não tiver uma boa preparação física, só porque viu uma reportagem na televisão. É duro, principalmente se tiver um dia de sol e calor.
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Consequências da seca extrema: o caudal do rio Paiva estava bastante reduzido.
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E no final do percurso, uns eucaliptos para ainda me chatear mais (natureza intocada...). Consegue-se ver, através desta espécie não nativa de Portugal, no meio do rio Paiva quase seco, uns afloramentos rochosos, que achei bastante interessantes.
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Há realmente umas quantas praias fluviais (mais para o final do percurso, na direcção Areinho - Espiunca). Estavam a abarrotar de pessoas, como todo o percurso. Para mim, e correndo o risco de ser injusta, acho muito mais bonitas as praias que estão perto de mim. Não conseguem competir com a beleza das praias de Coja ou da zona de Góis.
O que na verdade eu achei impressionante, durante todo o percurso, foi a quantidade de pessoas que estavam nos Passadiços. Eram centenas e centenas de pessoas, de todas as idades e compleições físicas, bem preparadas e mal preparadas. Os passadiços estavam sempre a tremer, devido à constante passagem de humanos e alguns cães, ao ponto de não se conseguir tirar grandes fotos (ficaram muitas tremidas). E é espantoso a inconsciência de se ir para um sítio daqueles, sem preparação, no calor, muitos sem água, muitos sem sapatilhas, muitos que não irão se meter noutra destas tão depressa. Havia pessoas a bufar, muitas crianças pequenas, uma senhora sentada ao sol (a meio do caminho, onde não havia sombra largas dezenas de metros, antes e depois) quebrada pelo esforço, cães com a língua de fora e cheios de sede (coitadinhos) e muitos com a sensação que tinham sido enganados por tanta publicidade e "maravilhas" que tinham sido ditas.
Para conclusão:
- Aquela zona geográfica atravessada pelos Passadiços do Paiva é um território com um Património Geológico impressionante. Mas para se apreciar verdadeiramente estas maravilhas, o percurso deveria ser acompanhado de guia e/ou placas com explicações sobre os geosítios. Senão, não sabemos para onde olhar e parece "só" um monte de pedras.
- Aparentemente existem, naquele local, algumas espécies protegidas por lei (tais como a Libélula Esmeralda e os Gonfos de Graslin). Na verdade, a única fauna que vi foram as pessoas e os pobres cães. Com tanta afluência humana, de milhares de pessoas por semana, quais serão as consequências a curto e médio prazo para os ecossistemas da zona? É uma preocupação real. Leiam aqui algumas preocupações do grupo SOS Rio Paiva, em relação aos Passadiços do Paiva e suas consequências.
- Eu até entendo que toda a gente do país, queira visitar esta "maravilha" de Portugal, mas para verdadeiramente se apreciar a beleza do Paiva e as suas singularidades, o percurso deveria ser fechado (continuando gratuito), com restrição para o número de pessoas que fazem o percurso de cada vez. Senão torna-se impossível a verdadeira comunhão com a Natureza e a apreciação do património geológico.
- E se quiserem visitar aquilo que toda a gente fala, vão em grupo, levem muita água, protetor solar e chapéu (se estiver sol), lanche e preparem-se fisicamente.
Bons passeios :)